#3

Livros , papéis , canetas , lápis ... uma pilha de folhas jaz inerte na secretária. Não lhes quero pegar , não quero. Sento-me na cadeira que dá um chio quando me tento acomodar. 

Suspiro. 

Era tão mais fácil escrever se estivesse inspirada ... 

Era tão bom que as palavras fluíssem , de forma simples , leve , que apenas saíssem , sem sequer eu dar conta. Escrevo, não porque tenho algo negativo para contar, mas porque sinto falta de o fazer, sinto saudades das palavras se soltarem fluentemente da minha mente, dos meus pensamentos, das minhas mãos, da minha boca. 

Tenho saudades do talento que já não é o que era, de já não ter a mesma capacidade para me exprimir, daquilo que escrevo já não ser mais considerado arte, ser considerado um texto qualquer que poderia estar em qualquer diário, de qualquer pessoa. E eu não sou qualquer pessoa.

Escrevo porque me faz bem á alma, porque sem escrever de vez em quando me sinto vazia, como que incompleta. E de vez em quando vem uma vaga de inspiração que desperdiço não sei bem porquê, vem uma vontade tão grande de escrever, escrever e escrever páginas e páginas de desabafos meus, de sentimentos, de paixões, de desgostos, da vida real, e da vida que invento, da vida que queria ter. Há muito que não o faço. Há muito que tudo o que me apetece dizer não sai do meu pensamento, não é imortalizado pelas palavras, tenho saudades.

Não sei o que fazer, sinceramente, não sei. Tento mudar, tento crescer, mas não consigo. Perdi o dom. Perdi a leveza das palavras, a paixão pelos sentimentos, a paixão pelo sentir e pelo ver, por aquilo que me rodeia, por aquilo que me faz eu ser eu. escrever? já nao o sei fazer, e sinto-me perdida, sinto-me roubada, sinto-me inútil. sinto que parte de mim foi levada por uma brisa que nunca mais voltou a soprar para ma devolver, deixei-a ir, e perdi-a.